Entrevista: Poluentes sob Análise

Agosto/2001

Luiz Augusto Madureira dos Santos, químico industrial, professor doutor em Geoquímica do Departamento de Química e Pesquisador da Central de Análises Químicas (UFSC)

Os assuntos são poluição de mangues, vazamento de petróleo, análise de combustíveis e pesticidas

Que projeto conjunto é esse que o Sr. está desenvolvendo em conjunto com a Univali (Universidade do Vale do Itajaí - SC)?
Este projeto nós estamos fazendo junto com o CTTMar (Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar), da Univali. A idéia é fazer um levantamento sobre a atual situação de toda a região da Baía da Babitonga (região de Itajaí - SC) em termos de contaminantes (metais e hidrocarbonetos) e investigar a toxicidade e os potenciais de bioacumulação e mutagenicidade dos poluentes orgânicos presentes nos sedimentos. A prof. Valéria Belotto, do CTTMar, vai acompanhar a presença de metais pesados, metais tóxicos, em mexilhões; a minha parte é analisar os compostos orgânicos.

Que tipo de poluição tem ali na Babitonga?
Olha, ali é uma região altamente impactada. Não só pelo tráfego marítimo, mas por todo o pólo industrial da região da grande Joinville, envolvendo aqueles cinco municípios que pertencem à baía da Babitonga. Tudo vai para a baía. Outro professor, aqui da bioquímica, o prof. Afonso Bainy, também está fazendo um estudo naquela região, usando peixes. Eu não fui acompanhar o trabalho com ele, mas um aluno meu foi e disse que é terrível. É dantesco. O nível de contaminação ambiental por causa de metais pesados é altíssimo porque tem indústrias ali que trabalham com galvanoplastia, por exemplo, e isso envolve o uso de grande quantidade de metal e também de cianeto, que depois é descartado nos rios. Eu não tenho informação sobre os tratamentos que as empresas fazem. Talvez as empresas maiores já tenham a sua estação de tratamento, mas para as menores talvez ainda não seja economicamente viável.

Quais são as empresas mais poluentes?
Normalmente, essas empresas que trabalham com galvanoplastia, que envolve cromagem, costumam ser altamente poluentes porque trabalham com muita quantidade de metal. Zinco, cromo e alumínio, por exemplo. Polui, principalmente, água. Eu trabalho mais com as substâncias orgânicas. Havia uma contaminação muito grande por parte das indústrias de celulose e têxtil, durante o processamento de branqueamento do papel e o alvejamento do tecido. Isso já está bem controlado. Era um problema que existia por causa da formação dos chamados compostos organoclorados, devido ao processo de branqueamento do papel ou do tecido. Adicionava-se cloro e esse cloro podia reagir com algum efluente orgânico formando compostos do tipo organoclorados. Agora, infelizmente, o que já foi para o ambiente tem um processo de degradação muito lento. Isso ainda vai ficar aí por um certo tempo nos sedimentos dos rios da região. Não tem como retirar. O que se encontra no ambiente somente com o passar do tempo é que pode degradar. (…) O nosso projeto conjunto com a Univali é um convênio com repasse de recursos do CNPq para o Estado, através do Funcitec, para que o dinheiro chegue aos grupos que tiveram seus projetos aprovados. Os projetos foram aprovados em 1999 e, agora felizmente, foi assinado o convênio. (…) No meu caso, o trabalho é ir para a baía da Babitonga coletar as amostras e depois fazer as análises. Na verdade, a gente já fez alguma coisa. Nós coletamos amostras, eu e um dos meus alunos de mestrado, junto com a professora Therezinha de Oliveira, que é a atual coordenadora de pesquisa e pós-graduação da Univille. Ela nos levou para dois lugares na baía: Lagoa do Saguaçu e praia da Vigorelli. Em apenas dois dos pontos que nós coletamos sedimento, já deu prá identificar uma série de hidrocarbonetos provenientes de combustível fóssil.

Esses resíduos de combustíveis (petróleo, etc) também são poluentes orgânicos?
Sim. Esses são compostos orgânicos, basicamente formados por hidrocarbonetos, mas que também podem conter oxigênio, enxofre e nitrogênio São considerados de alto risco devido aos efeitos tóxicos que causam nos organismos aquáticos, por exemplo.

Esses vazamentos freqüentes de petróleo que temos visto… Quanto tempo leva para recuperar a área degradada?
Isso pode demorar muito tempo, dependendo do tipo de ambiente impactado. Desde que houve aquele grande desastre lá no Alasca, com o Exxon Valdez, até hoje, se fizermos uma busca na literatura, a gente ainda encontra trabalhos falando sobre o que restou na região. Mesmo com a limpeza que fizeram. Realmente, conseguir agora que haja uma restauração completa, vai demorar muito… Cinqüenta, cem anos. Nessa região da Babitonga, uma preocupação minha, e da professora lá da Univali, é que a Petrobrás tem a chamada monobóia ali próximo da região de São Francisco do Sul. A monobóia normalmente recebe o óleo dos navios, que tanto podem carregar como descarregar nessa monobóia. Dali segue por um oleoduto até o terminal que fica no porto de São Francisco do Sul, depois o oleoduto atravessa toda a baía da Babitonga para abastecer a refinaria de Araucária (PR). A nossa preocupação é que, só no ano passado e nesse ano, já ocorreram uns três ou quatro problemas de vazamento na região do Paraná, próximo a Curitiba, envolvendo os rios que abastecem, inclusive, o interior do Estado. Felizmente, a gente não teve problema ainda na Babitonga, mas por isso que a gente quer também fazer um levantamento em toda a região. Como se encontra hoje a região em termos de contaminação por combustível fóssil ? A gente não sabe o que existe hoje e nem o que poderá acontecer com um eventual desastre ali na região. A gente não quer que aconteça, mas passa um oleoduto ali pela região…

Como é o processo de degradação do óleo no ambiente?
O que a gente sabe que ocorre é que uma parte mais leve do óleo vai ficar na superfície e a tendência, principalmente no mar, é começar a ter o aparecimento de manchas e com o passar do tempo uma espécie de aglomerado em forma de borra acaba sendo formado e fica flutuando. Esses aglomerados, como se fossem blocos de gelatina, ficam flutuando e podem ficar à deriva pelo oceano. Por isso, a preocupação que se tem logo de tentar conter que o óleo antes que se espalhe. Quando ele vai para o alto mar é mais vantajoso porque ele começa a se dispersar, se dissolver… Quer dizer, ele vai se diluindo pela água, e isso facilita a própria degradação, ou pela fotoquímica promovida pelo sol ou pelos próprios organismos que vão degradando. Normalmente, pode persistir no mar por um período de até sete dias. Mas, isso vai depender do tipo de óleo, viscosidade, etc. O problema é quando o óleo vem para a costa, para a praia e os costões, porque ele começa a impregnar o ambiente, começa a aderir nas pedras e moluscos, na areia, nas plantas e nos corpos dos animais. Se for uma região de manguezal, a catástrofe é inimaginável pois causa o recobrimento físico da fauna, como os caranguejos, por exemplo, e flora, leva à narcotização e pode ainda acontecer de alguns organismos absorverem uma parte do óleo. A chamada fração hidrossolúvel. Pra se ter uma idéia do risco, a Cetesb de São Paulo, numa escala de 1 a 12., considera acidentes em manguezais como sendo de risco máximo, ou seja, nível 12.

Agora tem um spray dispersante que eles utilizam…
A idéia do dispersante é tentar fazer com que ocorra uma diluição do óleo, facilitando a sua dispersão na água do mar. No entanto, para vazamentos em regiões costeiras, não é recomendável pois o que se quer é conter o óleo e não espalha-lo para acabar atingindo outros ambientes na costa. Pode-se usar barreiras absorventes, por exemplo.

O Sr. também faz análise em mangues.
Em manguezais e também nós temos trabalhado tanto na Lagoa da Conceição quanto na Lagoa do Peri. O pessoal da biologia, a Prof. Clarice, e o Prof. Eduardo Sierra, do NEMAR, que trabalham bastante nessas áreas, já colaboraram com a gente. O meu interesse é trabalhar com os compostos orgânicos. Alguns têm origem na própria matéria orgânica terrestre, outros têm origem na biomassa marinha e outros podem ser indicadores de contaminação do ambiente. Podem ser indicadores da contaminação proveniente dos descartes dos restaurantes, por exemplo, que tem em volta da Lagoa como também podem ser indicadores de contaminação não só de esgotos domésticos mas também de combustíveis fósseis, no caso, petróleo propriamente dito. Nós fizemos um primeiro trabalho em 1996, que resultou em uma dissertação de Mestrado, ali na Lagoa da Conceição. Naquele estudo, nós não encontramos substâncias provenientes de combustível fóssil. O que identificamos, basicamente, foram substâncias provenientes das próprias microalgas que vivem na lagoa e de plantas terrestres, possivelmente carreadas pelas chuvas ou pelos os rios para dentro da Lagoa. Agora, passados cinco anos, nós coletamos novamente amostras de sedimentos nos mesmos locais. No momento, nós estamos desenvolvendo um novo método para fazer análise de outras substâncias. É possível que a gente não ache os compostos procedentes de petróleo, mas devemos encontrar indicadores de contaminação provenientes de esgoto. Essas substâncias a gente já conseguiu identificar no manguezal do Itacorubi, que está altamente impactado. Está bem no centro, recebe uma carga muito grande de efluente doméstico. No caso das substâncias procedentes da gasolina, por exemplo benzeno, tolueno e xileno, o problema é que algumas são muito voláteis. Então, se perdem rapidamente e não dá prá acompanhar. Lá na baía da Babitonga, nós conseguimos identificar os componentes mais pesados, que não volatilizam com facilidade. Na verdade, nos sedimentos de lá da baía nós conseguimos identificar os poluentes provenientes de rejeito doméstico e também os poluentes oriundos do petróleo. Nós também fizemos um comparativo do tipo de extrato orgânico obtido a partir de amostras de sedimento do manguezal de Ratones, dentro de uma área de preservação, e esse aqui do Itacorubi. A gente consegue perceber uma diferença em termos de contaminantes procedentes de esgoto, por exemplo. Em Ratones, a gente não identifica essas substâncias. Enquanto aqui, no Itacorubi, a gente consegue identificar bastante. Como nós agora temos esse método para separar bem essas substâncias, e já conseguimos coletar amostras lá na Lagoa da Conceição, vamos refazer essas análises especificamente para tentar identificar essas substâncias. O trabalho, que é uma tese de Mestrado, é para fazer a análise dos sedimentos de superfície, que fazem o interfaceamento com a coluna d'água, e pretendemos coletar também testemunhos no sedimento de até 2 metros de profundidade. A idéia é fazer, junto com o grupo do prof. Mozeto, da Universidade de São Carlos (SP), a datação desse sedimento (geocronologia) e com isso obter uma estimativa sobre a partir de que época devem ter começado a entrar esses poluentes no sedimento. Com essas análises vai dar prá dizer: olha, a partir da década de 80 já dá prá verificar a presença dessas substâncias.

O Sr. também já fez análise de tomates aqui na Central, é isso?
Foi, junto com o prof. Henri Courseil, nós desenvolvemos um método para análise de pesticidas nos tomates produzidos ali na região da bacia do Cubatão (Palhoça - SC). O trabalho vai ser publicado esse ano em uma revista científica. As plantações de tomates daquela região abastecem praticamente todo o Estado. Inclusive, para analisar um tomate que a gente tivesse certeza que não tinha problema de pesticida, nós fomos ao supermercado e compramos tomates orgânicos. Realmente, não apareceu nada. Foram esses que a gente usou para desenvolver toda a metodologia de análise. Depois, pegamos tomates no Ceasa e a gente identificou duas dessas substâncias, mas em baixíssima quantidade. Eu acho que, basicamente, lavando bem os tomates, você já resolve o problema. A maioria desses organofosforados que eles usam tem um tempo de vida muito curto e degradam muito rapidamente. O tomate, ali mesmo na plantação, recebendo a luz solar e a chuva, já ajuda a lavar e degradar uma boa parte.

E os produtores usam muito esses organofosforados?
Eles usam bastante. Eu não sei dizer quanto, mas a ordem de grandeza é de toneladas, considerando várias plantações. Mas o produto final, o tomate que vai prá mesa do consumidor, não tem muita coisa. Nós não fizemos um acompanhamento porque faltou verba. Enquanto nós estávamos desenvolvendo o método em laboratório era mais fácil, mas sair a campo, conseguir os tomates, nem sempre os agricultores querem fornecer porque eles acham que isso vai ser usado, de alguma forma, contra eles. Isso também é difícil… Então, essa parte de sair para o campo, pegar o tomate no qual tenha recebido aplicado recentemente o pesticida, depois fazer um estudo da degradação de cada pesticida, acompanhar o produto até o supermercado, a gente não fez porque faltou financiamento.

Existem muitos tipos de pesticidas?
Pesticida é um termo geral, porque, na verdade, ele cobre uma larga variedade de substâncias como inseticidas, herbicidas, fungicidas, acaricidas, etc… No caso dos inseticidas, tem a classe dos organoclorados, que estão banidos como o clássico DDT, aldrin e endrin, por exemplo. Eles podem gerar resíduos tóxicos e também permanecem por muito tempo no ambiente. Penetram no lençol freático, podem atingir os rios e também podem permanecer no sedimento por um longo tempo. Além disso, podem ser ingerido junto com o alimento pelos peixes e o homem. Eles têm a tendência de bioacumularem, ou seja, permanecerem no tecido adiposo, em alguns órgãos do próprio corpo humano ou dos animais.

Por quê no tecido adiposo?
É por causa da afinidade que alguns deles têm com a gordura. Por ser orgânico, então consegue se solubilizar com facilidade no tecido adiposo. Essa classe de pesticidas, os organoclorados, foi desenvolvida desde a época da Segunda Guerra Mundial. Depois essa geração terminou e vieram os carbamatos, piretróides e organofosforados, que são mais degradáveis, ou seja, não são tão estáveis quanto os organoclorados, gerando menos resíduos. Tem uma outra classe que é muito usada como desfolhante, que inclui o Tordon. É muito utilizado como desfolhante para o pasto, para eliminar ervas daninhas. Existem as recomendações de quantos dias a área tem que ficar isolada para só depois permitir o pasto. Eu fiz um trabalho com um aluno de iniciação científica sobre a presença desses compostos em gramíneas. Como ele é do interior, ele tava curioso de analisar as gramíneas para ver quanto teria dessa substância. A gente achou bastante quantidade porque ele coletou logo depois que foi aplicado. Esse trabalho, de 97, eu fiquei interessado em fazer porque um engenheiro agronômo entrou em contato com a Central de Análises para saber se nós fazíamos análise do Tordon. Então, ele explicou que a suspeita era que o Tordon havia contaminado uma plantação de batatinha em uma fazenda vizinha a de um fazendeiro que havia aplicado Tordon para limpar todo o terreno e depois colocar o gado. Havia a suspeita de que a chuva e o vento haviam levado o Tordon prá plantação vizinha, de batatinha. Nós fizemos essa análise e achamos um pouco de um dos componentes ativos do Tordon nas folhas da batatinha. Quer dizer, às vezes, se aplica num local e ele vai ter efeito mais adiante.

A contaminação mais direta, digamos, no pessoal que aplica esses pesticidas . Quais são os sintomas e efeitos sobre o organismo?
Olha, o que a gente ouve falar, inclusive ali do Centro de Informações Toxicológicas (CIT) do Hospital Universitário, são relatos de casos de agricultores que chegam com os mais diferentes sintomas. Tremedeira, cegueira… dependendo da substância que eles estão aplicando. Eles reclamam muito de coceira na pele, tremedeira ou cegueira. Esses são os efeitos mais agudos. Crônicos… generalizando, do que a gente ouve ali no Hospital, são problemas de batimento cardíaco, a pessoa começa a ter arritmia. Esses são os problemas mais gerais, cada uma das substâncias tem os seus efeitos específicos. Por exemplo, uma ou outra poderia causar até câncer no fígado porque a pessoa vai "ingerindo" o pesticida e vai acumulando no fígado.

Mas já existe a tecnologia para produzir pesticida com menos efeito nocivo sobre a saúde…
Ah, sim. Inclusive, essa é a tendência, tentar fazer com que eles sejam pesticidas e não biocidas. Biocida é aquele que, além de fazer o serviço dele que é eliminar uma determinada praga, por exemplo, ele faz uma verdadeira profilaxia, ele mata tudo. Por exemplo, pode ser um fungicida… ele não só mata o fungo que tá causando o problema no tomate ou na maçã, mas também elimina tudo, digamos, outros fungos que são interessantes para decompor a matéria orgânica. Quer dizer, são os fungos importantes para o ambiente, porque justamente vão ajudar a degradar a matéria orgânica. E, às vezes, esses fungicidas funcionam como verdadeiros biocidas. Eles vão eliminando tudo. A tendência, hoje, é que eles sejam o mais seletivo possível, apenas com a aplicação específica para um certo fim. Quer dizer, por parte do agricultor, é preciso também que ele use de forma mais racional. Os municípios têm os seus engenheiros agrônomos para poder explicar como eles têm que aplicar, mas, às vezes, eles acabam concentrando mais para deixar o produto "mais forte". Inclusive, quando nós fizemos a análise do Tordon, lá no próprio local onde estava sendo aplicado na gramínea, o rapaz que ia aplicar disse: "olha, como vocês vão pegar prá analisar, eu vou preparar um pouquinho mais fraco". Então, você imagina…

É meio habitual, então. Eles acham então que preparar mais forte…
É, "eu vou preparar mais forte para ver se aí mata mais". Tem um outro aluno que trabalha comigo, aqui na Central de Análises, que é do Norte do Estado, ali da região de Rio Negrinho, acompanhou um caso. Ele também ajudava o pai na agricultura. O que ocorre é que algumas dessas substâncias colocadas em grãos também provocam não só a contaminação do solo como dos pássaros. Eles pensam que aquilo é algum alimento e vão lá, pegam e comem.

Como funciona a Central de Análises? Que tipos de análises são feitas?
Aqui, nós podemos fazer basicamente a análise de metais em diferentes tipos de matéria prima. Pode ser em areia, água, solo, alimento, etc. Às vezes, a indústria da construção civil solicita análise para verificar o teor de sal na areia que vai ser usada para construção. Também fazemos análises de compostos orgânicos, solventes e alguns tipos de pesticidas. Pode ser em água, em solo, etc. A gente pode fazer a análise tanto da parte orgânica quanto inorgânica. Análise de combustíveis…

E os nossos combustíveis são confiáveis?
Olha, eu acho que o combustível daqui do Estado está muito bom no momento. Nós temos feito bastante análise de diesel, gasolina e álcool, até mesmo prá ver o teor de água na gasolina. Basicamente, o que se pede prá ver é a presença dos chamados "adulterantes", são compostos do tipo orgânico. Alguns são usados como solventes para tintas. Como eles normalmente são mais baratos, acabam sendo adicionados ao combustível. (…) O chumbo, não. Ele está banido no Brasil desde a década de 80. Felizmente, esse problema a gente não tem mais. Esses combustíveis que aparecem como adulterados, é por causa da presença de solventes que o pessoal adiciona. Algumas dessas substâncias já existem naturalmente na gasolina, aí eles aumentam um pouco mais. Nós temos algumas técnicas para essa análise. A mais simples é examinar a densidade do combustível. Geralmente, ele fica com uma densidade um pouco menor com a presença dessas substâncias, elas são mais leves.

Nos postos, tem aqueles recipientes de gasolina ao lado da bomba com as bolinhas boiando…
É prá dar uma idéia pro consumidor da densidade do combustível. No caso dos laboratórios, tem um outro processo, chamado destilação, para verificar se a gasolina foi fraudada. Nós analisamos as frações que são obtidas nessa destilação e dá prá perceber claramente se houve fraude. Quando há uma suspeita de fraude, a gente pode fazer ainda um outro tipo de análise, usando a cromatografia gasosa, para separar cada uma das substâncias presentes na gasolina. Por ali, eu consigo verificar se há alguma substância em quantidade maior do que deveria ter ou se existe alguma substância nova. Como eu tenho uma amostra da gasolina padrão, eu consigo comparar e ver. Tem como monitorar bem. Aqui, em Florianópolis, não pegamos nenhum caso de adulteração. Pelo menos nos postos que nós analisamos. Nós não fazemos um trabalho de sair a campo. Na verdade, são os postos que têm nos procurado até para servir como respaldo da gasolina que eles estão vendendo, que tá de boa qualidade. Agora, é muito dinâmica essa troca de combustível no tanque dos postos, porque eles estão recebendo, continuamente, uma nova carga do caminhão.

Ela já pode chegar adulterada?
É, não é o dono do posto que tem interesse em adulterar. Acho que, em 100% dos casos, o problema é o atravessador. É o mistério do caminhão que sai da refinaria e, misteriosamente, vai em algum local, batiza a gasolina e depois vem pro posto (risos).

E o álcool?
A gente também faz. O principal é ver o teor de água. A adulteração não é tanta, com solventes, também porque não é viável economicamente. Aqui, em Florianópolis, a gente também faz essa análise de água no combustível porque aqui é uma cidade litorânea e, às vezes, a umidade relativa do ar vai acima de 90%. É claro que essas substâncias, principalmente o álcool, pode absorver água e causar um aumento do teor de água no próprio combustível, mas isso é devido ao próprio ambiente. O certo é não ter água, mas, às vezes, o percentual que tem é muitíssimo baixo, não chega a prejudicar o desempenho. A não ser no caso de uma catástrofe, um caso de enchente, que tenha entrado água no posto, no tanque onde está armazenado o combustível. Uma vez houve uma suspeita dessas e imediatamente o pessoal trouxe o combustível aqui para analisar.

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