Entrevista: Energia para a Indústria

Junho/2001

José Fernando Xavier Faraco, engenheiro eletricista, especialista em Sistemas Digitais, presidente do Sistema FIESC (Federação das Indústrias de Santa Catarina) e presidente do Conselho Administrativo da Dígitro Tecnologia Ltda.

Os assuntos são crise energética e programas de conservação na indústria

Como a questão energética está sendo tratada no Sistema FIESC? 
Nós montamos um Fórum, o Fórum Sul de Energia. O objetivo foi reunir as Federações da Indústria da região Sul com as Secretarias Estaduais de Energia e todos os presidentes das companhias que geram, distribuem ou transmitem energia e são operantes no Sul. Para quê? Para urgenciar as medidas que visam melhorar as condições de abastecimento. Então, as medidas práticas: antecipação da importação de 2.000 MW (megawatts) de energia da Argentina, que tem um preço competitivo, é energia de potencial termoelétrico e hidrelétrico; todos os presidentes das companhias privadas e públicas se comprometeram a reduzir o tempo para entrada em  operação das novas usinas, nós saímos com a indicação de buscar um compromisso junto à indústria para acompanhar o Brasil no tamanho da economia, por auto-decisão. Nós chamamos tudo isso de racionalização do uso da energia. Isso foram medidas que o Fórum entendeu que deveria tomar e serão tomadas em conjunto. Nös vamos andar em conjunto nos três estados do Sul. 

Isso são medidas de tempos de crise... 
Nas questões de longo prazo... nós não estamos intervindo em questões ligadas a potencial hidrelétrico, a não ser nas pequenas usinas, como é o caso das PCH (pequenas centrais hidrelétricas), onde estamos procurando condições de financiamento junto ao BNDS para estimular a auto-geração e a co-geração. São usinas até 50 Mw (megawatts), que dependem de um simples licenciamento, não é tão complexo quanto uma grande usina que tem que fazer reservação de água e tudo mais. Essa é geração com queda d'água, sem reservatório. Nós estamos trabalhando duro também na questão da unificação do preço do gás natural no Brasil e na assunção do risco cambial por parte da Petrobrás como pagamento do monopólio que ela detêm. Nós achamos que alguém tem que assumir e esse papel é dela para que haja estímulo ao empreendorismo privado. Se não, ele não vai haver e a termoelétrica é a forma mais rápida de dar resposta. 

E os programas de eficiência e conservação de energia? 
Isso nós já tínhamos e só demos mais ênfase. Então, há a criação de grupos de pesquisa dentro da empresas, visando a minimização do uso de energia. É como aqueles núcleos de competência ou núcleos de prevenção de acidentes. Assim, nós estamos estimulando a formação de núcleos de funcionários que proponham medidas de alta eficiência para redução do uso de energia. 

E a questão ambiental? Ela está sendo considerada na gestão de negócios? 
Fortemente. Nosso estado é o maior ganhador de premiações de ISO Ambiental por desempenho ou gestão ambiental no Brasil. Santa Catarina é um dos mais premiados. A consciência está crescendo muito vigorosamente no meio empresarial, principalmente nos setores com uso intensivo de água. Então, a premissa é a devolução da água num estado, no mínimo, igual ao que tomou. Isso tem sido feito pelo manejo de aterros estabilizadores e, principalmente, pela adoção de mecanismos de desdobramentos das cargas de efluentes, em nível industrial, visando redução drástica das emissões ou liberação de lixo. 

O Sr. comentou que o industrial ainda tem uma certa dificuldade em aceitar inovações. Quanto isso interfe no processo de absorção da tecnologia gerada nas universidades? 
Isso quase pertence ao passado. Já houve mais reação à presença ou, digamos, considerar a universidade em projetos que tinham prazo definido para estar no mercado. Mas isso mudou. Não só pelo amadurecimento muito grande da universidade... Eu sempre cito o exemplo: a nossa empresa (Dígitro Tecnologia Ltda) tinha um desenvolvimento contratado com o LINSE (Laboratório de Instrumentação Eletrônica do Departamento de Engenharia Elétrica), da UFSC. Quando a universidade enfrentou a última greve, a direção do laboratório ligou dizendo "nós estamos em greve, mas os prazos não serão alterados". Isso mostra um grau de amadurecimento muito grande na relação da universidade com a indústria e eu acho isso fantástico. Por outro lado, o empresário aprendeu pelo pior caminho, o mais duro, que foi a exposição que nós tivemos com essa globalização... com a entrada ingênua do Brasil na globalização, vamos dizer assim... De qualquer maneira, o empresário foi exposto muito violentamente por uma decisão de quem não tinha o direito de fazer isso, que é o governo, que não tem nenhuma condição moral para dizer que o empresário é mais dorminhoco ou menos dorminhoco... Ele (o governo) é que não fornece uma boa mão-de-obra, ele é que não fornece condições... O Brasil com todos os impostos que recolhe... Mas ele acabou abrindo as fronteiras malucamente. Nosso Ciro Gomes, então ministro da Fazenda, fez isso e nós fomos, da noite para o dia, expostos à concorrência internacional e aí o industrial conheceu as léguas de distância que estava da competitividade e trabalhou duro. Nós pagamos um preço muito alto, mas as empresas que sobreviveram, vieram muito competitivas desse processo. Como eu já falei: nós exportamos aviões, por exemplo. Incomodamos os grandes mercados no ítem mais tecnológico do mundo, que são os aviões. Nós podemos fazer qualquer outra coisa.

Informações relacionadas à entrevista neste site:


Para navegar:

© 2001-2006 Vania Mattozo. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: Kornelius Hermann Eidam.