Entrevista: Gestão do Meio Ambiente

Julho/2001

Sebastião Roberto Soares, engenheiro sanitarista, professor doutor em Gestão e Tratamento de Resíduos e pesquisador do Laboratório de Resíduos Sólidos (LARESO ) do Departamento de Engenharia Sanitária (UFSC). 

Os assuntos são sistema de gestão ambiental, selo Verde, ciclo de vida de produtos

O que é a ISO 14.000? 
É uma série de normas internacionais voltadas para a qualidade ambiental. Assim como existe a série ISO 9000 voltada para a qualidade do produto, existe a 14.000 que é voltada para a qualidade ambiental. Dentro dessa série existem várias normas. A norma 14.001 trata do sistema de gestão ambiental. Essa norma é a única atualmente certificada. Depois existe a 14.004 que estabelece diretrizes de como utilizar a 14.001. As 14.010, 14.011 e 14.012 são normas de auditoria ambiental. São normas que já estão em vigor. No Brasil elas recebem o nome de NBR ISO14.001, etc. Depois existem as normas 14.040, 14.041 que são voltadas para a qualidade de vida. A 14.030 é voltada para o Selo Verde. De modo geral, dizem respeito à qualidade ambiental. Algumas dessas normas, como a 14.001 e 14.010, são normas voltadas para a organização ou empresa. A norma de Selo Verde e Ciclo de Vida são voltadas para o produto. Essas não estão ainda formalizadas no Brasil. Estão em discussão.  

Como se faz para implementar essa gestão ambiental aqui na UFSC? 
A primeira coisa é vontade. Isso é fundamental. A partir do momento que existe vontade política, política no sentido verdadeiro da palavra. Eu acho que não tiver vontade da alta administração, alta direção, a gente fala assim quando fala de empresas. Aqui dentro da UFSC, se não houver uma vontade da Reitoria, não adianta ficar discutindo.  

Essa seria uma das principais dificuldades? 
Eu acho que, hoje, essa é uma das principais dificuldades. Vontade de dizer o seguinte: olha, nós vamos implementar isso na parte administrativa e operacional da Universidade. Mas implantar mesmo. A Universidade já deu um passo interessante ao criar uma Coordenadoria de Gestão Ambiental. Isso já é um ponto importante, visto que não é qualquer lugar que assume isso. A Coordenadoria tem um status importante, ela está ligada quase que diretamente ao Reitor, ele tem um acesso bom à informação. Mas é importante prosseguir nesse caminho. É uma dificuldade? Claro que é. A Universidade parece uma empresa, hoje, mas uma empresa muito grande. Ela é uma cidade, tem todos os setores aqui dentro, os próprios bancos, eles estão dentro dos limites da universidade. Então implantar um sistema na UFSC que não considere esses elementos que não pertencem à universidade, mas estão no nosso domínio. então é difícil. Tem que envolver todas as pessoas. Primeiro, tem que ter a vontade política de dizer que a variável ambiental vai fazer parte do nossos processos operacionais e administrativos. Aí colocar a questão ambiental no processo operacional e administrativa passa a ser, às vezes, complicado. Não é o simples fato de dizer "olha, nós estamos fazendo o processo de coleta seletiva". é importante, mas não é suficiente. Tem detalhes como os contratos com fornecedores e sub-contratados, por exemplo. 

Quais seriam os principais elementos dessa gestão? 
A ISO 14.001 tem os elementos mínimos para constituir um sistema de gestão ambiental. Primeiro, tem que ter uma política ambiental. A política ambiental é algo assim: a empresa reconhece formalmente que a variável ambiental deve fazer parte das suas rotinas administrativa e operacional para tanto se compromete a respeitar a legislação vigente no local e a estabelecer um processo de melhoria contínua. Isso pode ser a política ambiental da empresa. Não precisa ter mais do que três linhas, mas não adianta escrever e deixar na gaveta. Uma política ambiental baseada na ISO 14.001 tem que ser divulgada junto ao público. Assumir publicamente é uma diretriz. O sistema ambiental seria a materialização dessa política. Digamos, agora eu vou colocar as condições de como vou colocar a política em prática. O que diz a norma? Primeira coisa: identificar os aspectos ambientais. Aqueles elementos que tem uma interface com o meio ambiente. Por exemplo, tem o Restaurante Universitário que faz a preparação de alimentos. Essa preparação é um aspecto ambiental porque quando preparo alimentos eu estou produzindo resíduos, etc. A partir da identificação dos vários aspectos ambientais dentro do Campus, eu vou buscar quais os impactos ambientais que estão associados a esses aspectos. Restaurante Universitário. quais são os impactos que ele causa? Eu posso ter contaminação do solo.Veja, estou falando de uma hipótese. O efluente líquido pode causar contaminação do mangue... Então, eu tenho que listar todos os impactos associados a esses aspectos ambientais. A partir desse momento, eu vou seguir outra etapa. Quais são os requisitos legais que eu devo obedecer? Essa é uma das premissas da ISO 14.001, que é o atendimento da legislação local vigente. Qual é legislação vigente em Florianópolis? Eu tenho que fazer uma pesquisa extremamente exaustiva de toda a legislação sobre meio ambiente que estão em vigor na cidade: legislação federal, estadual, municipal. Aí eu já tenho um parâmetro: o que eu não estou cumprindo? Bem, eu tenho que me adequar baseado naqueles impactos que eu causo, eu tenho que ver se eu não estou descumprindo a legislação. É evidente que aquele impacto que é um descumprimento da legislação é prioritário. Aqueles que não são, eles devem ser atendidos, mas não com tanta prioridade, digamos. Feito isso, eu poderia estabelecer critérios internos de desempenho. A empresa pode dizer: olha, eu estou atendendo a legislação vigente em Florianópolis, mas eu quero ir mais longe, eu quero atender aquela legislação lá da Suíça. Ou então, dizer: eu quero cumprir o dobro do que diz a legislação de Santa Catarina.  Então, eu já levantei os aspectos e impactos, verifiquei quais as legislações que estão sendo cumpridas ou descumpridas. Agora, eu vou estabelecer um plano de objetivos e metas. Digamos, o meu objetivo é o atendimento da legislação. Qual é a meta? O atendimento dessa legislação em seis meses ou redução de 50% da poluição atual em seis meses. (.) A partir desse momento, eu vou estabelecer um plano de ação propriamente dito. Ou seja, o que eu vou fazer para cumprir esta meta, como eu vou fazer isso. Isso consiste a elaboração de um sistema de gestão ambiental. Claro, descrito de maneira simplista. Depois disso, eu vou ter que dar condições para garantir a aplicação desse sistema.  

Ou seja, para implementar a gestão, de fato. 
Isso. A primeira coisa é alocação de recursos. Depois, estabelecer uma estrutura de responsabilidades, como a criação de uma Coordenadoria de Gestão Ambiental que, no caso, já está aí. Essa Coordenadoria deve ter poderes para intervir nos diversos setores e dizer como agir. Tem que fazer também uma campanha de conscientização e treinamento dos diferentes atores que trabalham aqui. O sistema, as informações, tem que chegar até eles. Trabalhar a questão da comunicação. mostrar que existe uma estrutura que está empenhada em melhorar as condições ambientais. Documentação. Tudo isso tem que estar documentado, de modo que se possa acompanhar o que está sendo feito. Documentação de análise, por exemplo. Controle operacional. cada setor que tenha uma atuação específica, o RU ou o Hospital, por exemplo, tem que ter procedimentos ambientais muito bem estruturados, estabelecidos e divulgados para as pessoas. Uma última etapa seria a resposta às emergências. É importante que se faça um levantamento dentro do Campus dos tipos de emergência que podem acontecer, naturais ou aquelas provocadas pelo próprio Homem, e propor soluções para essas emergências.  

Embora a UFSC tenha algumas características similares a uma empresa, ela também tem outras, distintas. Existe alguma experiência de aplicação desse plano em instituição de ensino? 
Eu não conheço nenhuma experiência no País de um sistema de gestão ambiental em Universidade. A única experiência que conheço, via literatura, é a Universidade de Barcelona (Espanha). Não conheço a universidade, mas sei, por comunicações científicas, que eles implementaram lá um sistema que vai ao encontro de tudo isso que estou falando. Por que? Eles dizem que o problema todo para implantação seria essa questão de incorporar a variável ambiental no setor administrativo e operacional. 

Incorporar essa variável num ambiente que tem uma população flutuante, como a Universidade. 
É um fator de dificuldade. Tem uma população que, às vezes, não tem a ver com a Universidade, pessoas que usam os bancos, e tem aquela população flutuante como os próprios alunos. Eles passam por aqui dois, três, quatro anos e depois vão embora. O sistema tem que ser pensado, na parte de comunicação, tendo em vista essa dificuldade.  

Mas o aluno também pode ser um multiplicador. 
Esse é o objetivo. Trabalhar com o aluno como sendo um multiplicador. Eu acho que a grande importância de se implementar o sistema de gestão ambiental numa universidade é esse, primeiramente: o fato de a Universidade ser uma estrutura formadora de opinião. É aqui dentro que nós vamos formar os técnicos que vão depois sair para fora, trabalhar. E lá fora existe, hoje, uma pressão muito grande para que as empresas incorporem a variável ambiental. Agora, essa população flutuante. é uma dificuldade. Ainda tem a falta de tradição, não existe muita experiência na área, mas isso é um desafio. Por outro lado, essas dificuldades são amenizadas, digamos assim, por que a Universidade tem, ao contrário de muitas empresas, setores de excelência que podem contribuir justamente para a melhoria da qualidade ambiental. O Departamento de Engenharia Sanitária, por exemplo, que trabalha especificamente com o meio ambiente. O Departamento de Engenharia Civil que trabalha com o conforto ambiental das edificações. O Departamento de Arquitetura que trabalha com urbanismo, com as próprias construções. Tem o Departamento de Administração que pode trabalhar junto com todos setores administrativos da Universidade, buscando viabilizar a questão do meio ambiente dentro do processo administrativo. Acho que os grandes conhecedores do assunto, digamos assim, estão aqui dentro. Isso facilitaria muito a implementação do sistema. Pensando bem, acho em quatro anos é perfeitamente possível formar as pessoas para que elas tenham contato com o processo. De qualquer forma, essas pessoas são apenas um elemento. Nós temos os funcionários, os professores que não tem essa rotatividade dentro do ambiente. O máximo que pode acontecer é uma pequena transição na administração, mas para isso existe a legislação da universidade. Todo esse plano não deve ser simplesmente o resultado da ação de uma pessoa. Isso tem que ser consolidado e a consolidação seria através de uma legislação. 

O Sr. é um dos pesquisadores do Laboratório de Resíduos Sólidos (LARESO). Dentro dessa especialidade, quais são os principais problemas ambientais do Campus? 
Tem aqueles problemas tradicionais do meio ambiente: produção de resíduos, produção de efluentes líquidos. Todos os setores, o Restaurante, os laboratórios, as lanchonetes, estão produzindo resíduos. Existem, hoje, alguns programas na área de resíduos químicos, mas isso tem que ser ampliado. É o princípio da ISO 14.000, melhoria contínua. Alguma coisa já está sendo feita. Nós temos o serviço de compostagem que trabalha com restos de comida dos restaurantes e das lanchonetes. Isso ajuda também, mas precisa ser ampliado. Tem resíduo que ainda não tem destino adequado, só é coletado pela Prefeitura. Quando digo não tem destino adequado é porque ele poderia ser trabalhado melhor. Nós temos também o Hospital que produz muito resíduos e tem uma destinação, mas isso precisa ser sempre trabalhado e tomado sempre, cada vez mais, cuidados. Problemas de efluentes liquidos. esse é extremamente grave porque praticamente tudo vai para o esgoto. Quando se diz esgoto na Universidade é jogar no mangue. Agora vai sair uma rede de esgoto que vai amenizar esse problema. Tem outras questões. O consumo de energia. Com essa campanha do uso racional, está começando a se tocar no problema. É um problema ambiental bastante grave. É aquela coisa assim, as pessoas dizem: mas como é que isso é problema ambiental? Não causa poluição. Quer dizer, não causa aqui. Está causando problema onde ela é produzida. Muita da energia que a gente consome vem, uma parte ou outra, da usina Jorge Lacerda, que é uma usina termoelétrica a base de carvão que polui bastante. Basta passar lá e ver aquela fumaça. O fato de consumir uma quantidade menor de energia estaria reduzindo, com certeza, essa poluição. A gente pode partir para outras questões. consumo de água, por exemplo, e para elementos um pouco menos tradicionais, como a questão do conforto dentro da universidade. Nós temos aqui um plano de urbanização que, eu acho, deixa muito a desejar. A gente pensa nas necessidades físicas de ter as salas, tudo isso. mas isso não está sendo compatibilizado com o plano de urbanização do Campus. (.) A gente pode trabalhar a questão de segurança, seja a segurança de transporte, seja a segurança dentro das próprias salas. Não se tem muito essa preocupação no dia-a-dia. Eu já trabalho aqui há algum tempo e não lembro de ter sido convocado para fazer uma simulação de um plano de emergência para incêndio, por exemplo. Eu acho que a gente acaba não se utilizando do conhecimento que tem para aplicar dentro da própria casa.  

E o conhecimento que é produzido dentro do seu laboratório? O Sr. consegue transferir para fora? 
Sim. Mais para fora do que para dentro, digamos. Muitas pesquisas são financiadas pela sociedade externa. Nós temos pesquisas financiadas pela UFSC, pelo governo federal e pela indústria. Se o conhecimento não chega diretamente, chega indiretamente à comunidade externa porque a gente forma um grande número de pessoas. Temos muitas pesquisas, dissertações, o doutorado está começando agora. 

O Sr. falou de outras duas normas ambientais: o Selo Verde e o Ciclo de Vida dos Produtos. 
Essas normas são voltados ao produto. Hoje, elas estão na forma "draft", ou seja, estão na forma de resumo final. Não estão aprovadas formalmente como a ISO 14001, 14002. Na verdade, hoje existe uma infinidade de selos ambientais. Tem um material lá que tem um selo de "produto ambiental", "produto ecológico" que não significam nada, mas as pessoas se utilizam desse selo como um apelativo de venda. Justamente para harmonizar tudo isso, para colocar num mesmo padrão, está sendo criado o Selo Verde. Vai ter descrição do que significa aquele selo que o produto está recebendo: consome menos energia, etc. A análise do ciclo de vida é uma ferramenta que vai ser utilizada justamente para dar esse Selo Verde. A própria palavra deixa entender alguma coisa. vou analisar o ciclo de vida desse produto desde a sua criação, da extração da matéria-prima até a sua eliminação. Imagine o seguinte: uma garrafa de água mineral. Vamos analisar essa garrafa desde a extração do petróleo, supondo que ela seja de plástico, a transformação desse petróleo em polímero, depois a transformação do polímero em garrafa, o uso da garrafa e a eliminação dela. Essa análise considera, em sua essência, um processo de comparação, exclusivamente ambiental. Não considera os custos. Por exemplo, eu posso embalar a água em uma garrafa de PVC ou plástico Pet. Então, eu vou avaliar os dois processos e fazer a comparação. Essa garrafa tem um ciclo ambiental. Então, entre os dois processos, qual tem maior repercussão ambiental? Qual das duas garrafas, do ponto de vista ambiental, é melhor? Claro, vai ter uma análise econômica, técnica, etc, mas, do ponto de vista ambiental, a análise do ciclo de vida serve para isso, acompanhar todo o ciclo até a eliminação do produto. Imagina agora dois detergentes, a quantidade para lavar dez pratos. Então, você vai analisar a fabricação de dois detergentes e vai dizer "ah, esse aqui é um detergente que quase não polui, o outro polui um pouco mais". Isso na fabricação. Depois, eu vou considerar a fase de uso. De repente, aquele que não polui lá na fabricação, para utilizar precisa de água quente porque se não for assim ele não consegue dissolver e não funciona direito. Esse aspecto precisa ser considerado. Eu vou precisar de muita energia na hora de utilização. Então, eu posso dizer que, na fase de fabricação, o produto 1 é melhor que o produto 2, mas na utilização, ele é pior. As pessoas normalmente não se dão conta disso. (.) Então, o Selo Verde vai ser dado para uma categoria de produtos que obtenham determinada performance ambiental. Eu vou utilizar a análise do ciclo de vida para fornecer o Selo Verde. Não está aprovado ainda, mas essa é a idéia. 

O Sr. tem análise de padrões? Dá para dizer quais produtos poluem mais? 
Ah, não. Fica impossível, agora, dizer isso. Depende muito do uso. Eu posso dizer que a fabricação de um quilo de PVC é pior do que a fabricação de um quilo de vidro. É uma hipótese. Porém, depende muito da utilização que vou dar a esse produto. Não se fabrica o produto por fabricar. O que deve ser comparado, na verdade, é a função, não o material em si. Vamos dizer assim: um quilo de vidro polui menos do que um quilo de PVC. Agora, eu vou utilizar esse material para produzir garrafas. O problema é que, com um quilo de vidro, eu vou fabricar duas garrafas. Com o PVC, eu vou fabricar praticamente umas cem garrafas. Mesmo que um quilo de vidro polua menos, na hora de utilizar ele vai acabar poluindo muito mais porque para embalar cem litros de água eu vou precisar de 50 quilos de vidro enquanto de PVC eu vou utilizar o mesmo um quilo. O que vai definir realmente é a função do produto. Vamos pegar o exemplo do sabão em pó. Digamos, o sabão A polui duas vezes mais do que o sabão B. Um quilo do produto. Então, aquele sabão A poluía mais na fabricação, mas, de repente, na hora de usar, ele é cinco vezes mais econômico do que o outro. No final, aquele que, num primeiro momento, poluía mais, vai acabar sendo muito melhor para o meio ambiente do que o outro. 

Mas esse Selo vai depender, então, de testes exaustivos.  
Em algumas situações precisa de muitas buscas de dados. Mas eu acho que é mais a maneira de abordar o problema, é onde a gente vê grandes erros na hora de fazer comparações. 

Para a indústria é mais fácil fazer isso durante o processo de produção, mas como será o acompanhamento depois da entrega do produto? 
Ah, sim.Mas, hoje, existe uma necessidade de a empresa começar a incorporar essa variável ambiental na hora do projeto. Eu participei recentemente, no Departamento de Engenharia Mecânica, de uma dissertação, onde o objetivo era criar uma metodologia de projeto de produto incorporando a variável ambiental. Então, já estava se pensando nessa variável. na hora de desmontar o produto, por exemplo. O simples fato de facilitar a desmontagem do produto já é uma boa condição ambiental. Se eu conseguir desmontar facilmente, eu posso recuperar algumas peças. Imagina um computador. Se eu não conseguir retirar facilmente o vidro do plástico (do monitor), eu não tenho condições fáceis de recuperar esse plástico porque os dois estão misturados. Então, na hora de conceber o produto, o engenheiro deve pensar assim: vou criar um parafuso que, se desapertar, sai facilmente, separa os dois processos. Isso já é uma maneira de pensar ambientalmente. A empresa tem a obrigação de pensar o ciclo de vida, sim. Ela está sendo cada vez mais responsabilizada pelo conjunto das coisas. Existem determinados produtos que a empresa é responsável pelo resíduo depois do uso do produto. O exemplo clássico é o agrotóxico. Hoje, o produtor tem a responsabilidade de recuperar essa embalagem. Também está se percebendo isso com pilhas e baterias de telefone. Já está existindo uma responsabilização do fabricante para recuperar esse material. Por que é um produto extremamente perigoso para o ambiente depois de ser utilizado. Se continuar nesse ritmo, eu espero que continue e acelere até, o produtor vai ser responsabilizado por tudo que ele produz, já que é uma extensão do produto dele.  

E a questão da energia nesse ciclo do produto? 
A energia deve ser considerada em todas essas fases. O consumo energético deve ser considerado até porque, ao mesmo tempo, que você está trabalhando a variável ambiental, também está fazendo, com certeza, um produto mais econômico. Sem falar que muitos dos sistemas de produção utilizam energias outras, e não a energia elétrica tradicional. Tem empresas que precisam de calor, de carvão, etc. Aí tem que fazer uma análise ambiental mais detalhada, do ponto de vista ambiental, porque as repercussões são muito diferentes. Se eu sei que a fonte é a mesma (elétrica), a única diferença que vai ter de um produto para outro é a quantidade de energia que ele consome. Se um produto consome mais, ele vai ter uma repercussão ambiental maior no tocante à energia. Se eu estou tentando comparar processos que utilizam fontes diferentes, eu não posso dizer que a quantidade é o diferencial. Porque muitas vezes eu posso ter uma energia a base de carvão que pode ser mais poluente do que uma outra fonte a base de gás. Então, vai depender da origem dessa energia para dizer qual dos dois processos é mais poluente. 

Quem vai regulamentar essas normas ambientais? 
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que é um membro da ISO Internacional. O Inmetro credencia empresas para fazer certificações. Existem empresas que tem a autorização do Inmetro para dar a certificação ambiental.


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